“Efeito do furacão no Haiti é catastrófico”, diz padre Hervé
O furacão Matthew atingiu a costa sudoeste do Haiti na manhã desta terça-feira, dia 4 de outubro, com ventos e chuvas intensas. Pelo menos nove pessoas morreram no país caribenho e na vizinha República Dominicana, e muitas outras seguem desaparecidas. As localidades de Tiburon, Jérémie, Les Cayes, Miragoane e Jacmel estão na trajetória prevista para a passagem do furacão em solo haitiano. Os governos dos dois países declararam estado de emergência.
“O efeito do furacão no sul do Haiti é catastrófico”, afirma o padre Jean-Hervé François, diretor da Caritas Haiti. “Houve mortes por afogamento e edifícios desmoronados. Algumas comunidades estão debaixo d’água. Muitos edifícios estão danificados. As pessoas perderam tudo”, desabafa ele. A costa sul do país ficou inundada com as ondas provocadas pela tempestade. É provável que as eleições presidenciais no Haiti marcadas para o próximo domingo, dia 9, sejam adiadas. A Caritas alerta ainda para o aumento dos riscos de contaminação por cólera, devido às fortes chuvas e à falta de acesso à água potável. Alguns casos de cólera já estão presentes no sul do Haiti e pelo menos uma morte pela doença foi relatada.
A Caritas Haiti está auxiliando as famílias que tiveram de deixar suas casas. Em conjunto com as equipes de emergências do governo, abriu mais de 200 abrigos nas áreas de risco. Alimentos estão sendo distribuídos para as pessoas abrigadas na cidade de Les Cayes, que possui cerca de 70 mil habitantes. Em Jacmel, a Caritas está fornecendo refeições quentes, água e produtos de higiene. Uma equipe também está em contato com as paróquias para fornecer cobertores, roupas de cama e kits de higiene.
A Catholic Relief Services (CRS), dos Estados Unidos, tem uma equipe atuando em Les Cayes. “A infraestrutura não é capaz de lidar com tanta chuva na área de baixa altitude em torno de Les Cayes”, diz Chris Bessey, representante da entidade no país — a CRS integra a confederação Cáritas. “Nós vamos ter que esperar para ver quão ruim o dano é. Mas a inundação é uma grande preocupação”, aponta ele.
Inundações e deslizamentos
Ainda antes da tempestade, engenheiros ligados à CRS foram enviados para escritórios de campo nas cidades de Les Cayes, Jérémie e Jacmel, na parte ocidental sul do Haiti. Estes técnicos irão avaliar possíveis danos estruturais para iniciar os preparativos de reparos. “O que me assusta é a existência de muitas áreas frágeis, sujeitas a inundações rápidas e a deslizamentos de terra, o que pode se tornar um grande problema. As pessoas estão vivendo em favelas, onde as casas não são bem construídas e facilmente podem ser atingidas”, declara Jean Simon Ludger, do escritório da CRS em Les Cayes.
Antes da chegada do furacão, várias comunidades que vivem em áreas de risco no Haiti foram evacuadas, o que se repetiu na República Dominicana e em Cuba. Transmissões realizadas por rádio e alertas feitos pelas redes sociais e mesmo no contato direto com pessoas em situação de risco buscaram sensibilizar para os perigos da tempestade. Ainda assim, houve quem preferisse permanecer nas suas casas, só procurando abrigo em edifícios de cimento mais robustos quando se iniciaram os fortes ventos e as chuvas torrenciais. Também foram removidos das vias públicas outdoors e outros materiais que poderiam ser arrancados pelo vento e houve suspensão do funcionamento das escolas.
O Haiti ainda sofre as trágicas consequências do terremoto de janeiro de 2010, quando 200 mil pessoas morreram e a infraestrutura do país foi destruída. A grave crise humanitária que se instaurou a partir dali motivou uma grande onda de migração para os demais países das Américas, entre eles o Brasil, de haitianos e haitianas que deixavam sua nação em busca da sobrevivência e de auxílio para os familiares que permaneciam lá. Ainda hoje há dezenas de milhares de pessoas vivendo em barracas nos campos de abrigo improvisados instalados no Haiti.
Por Luciano Gallas / Assessoria Nacional de Comunicação da Cáritas Brasileira, com informações da Caritas Internationalis e de agências de notícias
Foto: Caritas Internationalis