Documentário sobre a acolhida aos venezuelanos é lançado em Recife

Entender o outro a partir de histórias de vida contadas numa tela de cinema. Na noite desta segunda-feira (20), a arte foi o canal para provocar empatia no público que esteve no Cinema São Luiz, no centro do Recife, para assistir o documentário Vindas e Vidas. Com sala lotada, o filme relatou como foi a saída de quatro famílias venezuelanas do seu país, contou qual foi a razão dessa migração, assim como mostrou suas trajetórias até a chegada na capital pernambucana, onde foram acolhidos pala Cáritas Brasileira Regional Nordeste 2.
A exibição levou o público a sentir uma mistura dos sentimentos de angustias, aflição, determinação, força e saudade. Quem vê entende que os que chegaram às terras brasileiras não vieram por opção ou para trazer problemas, não há o desejo de ficar, chegaram porque precisaram fugir da fome e das dificuldades econômicas pelas quais está passando o povo da Venezuela, na maior crise humanitária vivida no país vizinho.
“Quando tu chegas em casa e não tem comida para alimentar os filhos, a única solução é fugir”, nos conta com lágrimas nos olhos a venezuelana Maira Karina Camacho durante o documentário. “Ninguém quer sair do seu país e todo venezuelano quer voltar para a Venezuela. Até quem vai conhecer também quer voltar, porque é um lugar muito bonito”, completa Franklin Rivas no vídeo.
Para quem atravessou dois países inteiros em busca de sobrevivência, como o casal formado pela venezuelana Noelis Quijada e brasileiro Rodrigo Escobar, que saíram de Caracas (Norte da Venezuela) e fizeram uma viagem de carro durante um mês até Porto Alegre, na região Sul do Brasil, antes de vir para Pernambuco, a busca foi pelo recomeço. “Espero que as pessoas entendam que estamos começando do zero. E não é fácil, porque já tínhamos começado tudo. Nós tínhamos tudo na Venezuela, tínhamos nossa casa própria. Então acho que esse filme vai servir muito para aprofundar essa sensibilidade que o brasileiro já tem para com nossos problemas”, comenta Noelis.
Segundo a secretária regional da Cáritas Brasileira, Neilda Pereira, o documentário mostra o trabalho de acolhida realizado com muito amor e cuidado pela igreja católica, através da Cáritas Brasileira, organismo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). “O Papa Francisco nos orienta a acolher, proteger, promover e integrar, e assim fizemos no projeto Pana, em parceria com a Cáritas Suíça, e como fazemos em todas as ações do Regional Nordeste 2 onde o foco é migração”.
A secretária entende ainda que o maior objetivo para a produção do documentário já está sendo alcançado, que é fomentar na sociedade as discussões e formatação de políticas públicas voltadas para Migrantes e Refugiados. “Não queremos parar até que haja de fato políticas eficazes, porque os venezuelanos continuam chegando e a grande parte deles em situação de vulnerabilidade, como é o caso dos indígenas da etnia Warao, que temos visto pedindo esmolas nos sinais da cidade”, lembra Neilda.
O filme com cerca de 50 minutos de duração foi resultado da parceria entre a Cáritas Brasileira Regional Nordeste 2, o Ministério Público Federal (MPF) e a Universidade Católica de Pernambuco. Durante a sessão estiveram presentes os representantes das três instituições Neilda Pereira, o procurador-chefe da PRR5, Marcelo Alves, e o reitor da Unicap, Padre Pedro Rubens, além de convidados representantes da Igreja, como Dom Fernando Saborido, do Governo do Estado de Pernambuco, o secretário Justiça e Direitos Humanos, Pedro Eurico, e o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/PE), Bruno Batista.
Apesar do documentário ter sido apresentado em sessão única no Cinema São Luiz, as instituições parceiras estão montando um calendário de exibição. A ideia é apresentá-lo inicialmente em espaços onde possam ser fomentados debates acerca do tema migração e refúgio, para depois disponibilizar o trabalho em plataformas abertas como o YouTube.